Apesar do clima de campanha no Vaticano, nenhum cardeal quer ser Papa. Quem afirma é o decano dos cardeais brasileiros, Dom Raymundo Damasceno. Aos 88 anos, ele é o único representantes do país que não votará por causa da idade, embora tenha participado das reuniões preparatórias para o conclave.
— Ninguém quer ser Papa. Quem quer ser é porque não sabe o tamanho da missão — afirma o arcebispo emérito de Aparecida.
Damasceno diz que o resultado da eleição é imprevisível, embora os vaticanistas costumem fazer listas de favoritos.
— O conclave é uma caixa de surpresas — afirmou, pouco antes de os colegas seguirem para o isolamento. — Há sempre uma surpresa. Só em alguns conclaves você percebe alguma coisa antes. No caso do Papa Francisco, não se previa. Ele era desconhecido.
O cardeal disse se sentir confortável com o fato de não poder votar.
—Você dorme mais tranquilo. Não tem preocupação de escolher, deixa para os outros cardeais — brincou. —Também estou curioso para ver quem vai sair, né? Quero estar na praça, no meio do povo.
Embora não aponte favoritos, ele disse que três cardeais italianos “chamaram a atenção” ao falar nas reuniões pré-conclave: Pietro Parolin, Matteo Zuppi e Pierbattista Pizzaballa.
O decano dos cardeais brasileiros contou que espera uma eleição breve, apesar de muitos cardeais terem reclamado da falta de tempo para conhecer os colegas.
— Creio que o conclave poderá durar no máximo quatro dias. Não mais do que isso — sentenciou.
Damasceno participou das votações de 2013, que elegeram o Papa Francisco. Questionado, disse não poder revelar seu voto. Ele afirmou que o fato de a eleição ocorrer diante do afresco do “Juízo Final”, de Michelangelo, reforça o peso nas costas dos cardeais eleitores:
— Aquilo gera uma responsabilidade. Você vai ser julgado pelo seu voto também. O que está movendo seu voto? São interesses e simpatias ou é o bem da Igreja?
Fonte: O Globo