Após Bompreço fechar as portas, moradores convivem com imóveis vazios e sensação de insegurança no Recife

Há 40 anos à frente de um fiteiro na Rua João Fernandes Vieira, perto da Avenida Agamenon Magalhães, Marlene Bezerra da Silva viu a loja do Bompreço, uma das principais redes de supermercado do Nordeste, virar Walmart e depois voltar ao nome original. Desde março, no entanto, o estabelecimento está com as portas fechadas. Na fachada, um letreiro informa que haverá uma seguradora de planos de saúde no lugar.

“Essa hora mesmo o pessoal passava aqui para ir comprar pão no Bompreço”, conta Marlene, enquanto se organizava para fechar o fiteiro, por volta das 17h30, impactado pela queda do movimento desde o fim do supermercado. “Eles paravam e compravam uma balinha, uma pipoca, uma água e seguiam para lá. Hoje, não. Não compram mais nada”.

O fim Bompreço na Agamenon faz parte do cronograma de encerramento das atividades de toda a rede no Nordeste, previsto para ser concluído neste semestre. No Recife, outras quatro unidades, as últimas que ainda funcionam, também fecharam as portas em 14 de março.

O Diario de Pernambuco visitou os antigos Bompreço nos bairros dos Aflitos, Graças, Boa Viagem e na Avenida Agamenon Magalhães. Em comum, os espaços estão isolados, silenciosos e escuros. Nessas áreas, antes movimentadas pelos clientes do mercado, frequentadores relatam aumento da sensação de insegurança e afirmam que até têm evitado andar pelas ruas à noite.

No Bompreço dos Aflitos, na Zona Norte, uma pintura no vidro da porta principal anuncia que o local está fechado. Também há fitas amarelas e pretas em volta da escadaria de acesso. Entre os moradores do bairro, o comentário é que uma academia será aberta no local.

“Essa região ficou muito abalada com o fechamento do Bompreço. Está muito esquisito. O pessoal tem medo de andar por aqui porque ele é muito grande, é quase um quarteirão todo. Um medo que antes não tinha”, diz o motoboy Edson Vicente, de 43 anos, que trabalha do outro lado da rua. “Não sei por que fechou. Ele tinha movimento”.

Na unidade da Avenida Dr. Malaquias, uma das mais tradicionais da rede, o cenário é semelhante. O estacionamento que antecede à entrada está tomado por folhagens secas. Não há movimentação de funcionários, embora seja o único ponto entre os visitados que ainda possui prateleiras, expositores de frutas e verduras e letreiros luminosos para setorizar os produtos. Nas redes sociais, o burburinho é que outro mercado, ligado a uma rede alagoana, ocupará o espaço.

Aluga-se

Entre as unidades recém-fechadas, apenas a de Boa Viagem, próximo à Igrejinha, na Zona Sul, está com placa de aluga-se. O estacionamento está fechado por cadeado. O edifício, cercado por arames e tapumes.

“À noite, essa rua fica um deserto. Eu prefiro pegar ônibus na pracinha e dar uma volta maior no transporte do que atravessar o canal e ir para o ponto do antigo Laçador”, conta Maria Eduarda Silva, de 20 anos, atendente de uma loja próxima a unidade. “Um dia de manhã um homem me seguiu, eu voltei para a loja correndo”.

A situação é semelhante na loja da Avenida Domingos Ferreira, também em Boa Viagem, onde a operação foi encerrada em 31 de janeiro de 2024. Desde então, o galpão está fechado por tapumes. A reportagem apurou que o imóvel está sem água e sem energia desde o ano passado.

“Desinvestimento”

Proprietário da marca, o Grupo Carrefour diz que o fechamento das unidades faz parte da estratégia para “simplificar e agilizar” suas operações, que vai focar em “lojas de grandes formatos”. Em nota, o Grupo afirma que planeja “desinvestir” todos os Bompreço do Nordeste (são 17), além das 47 lojas Nacional, conhecidas no Sul do país.

Segundo o Grupo Carrefour, dos imóveis que abrigam as lojas em processo de desativação, 11 são próprios e 53 são alugados. O número referente a Pernambuco não foi informado.

Fonte: Diario de Pernambuco

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